Certo piloto conduzia seu avião por sobre uma região montanhosa, isolada e inóspita, com picos cobertos de neve e, ao redor, vales e mais vales, despenhadeiros profundos e precipícios. O avião era um monomotor antigo, quase pré-histórico, que heroicamente avançava em direção ao aeroporto de destino. De repente o piloto escuta um barulho no assoalho do avião, atrás de si, no lugar que seria para os passageiros. Ele estava sozinho, e nem podia pensar em sair do comando. Tudo era manual; qualquer descuido colocaria tudo a perder.
O barulho vai aumentando mais e mais de intensidade e, para seu horror, nosso amigo piloto descobre que é um rato, roendo por baixo do carpete do assoalho. Rhoc, rhoc, rhoc… Ele entra em crise. Aquele lugar é exatamente por onde passam todos os fios da eletricidade e controles da aeronave. Basta que o rato roa um deles e tudo estará perdido.
Nosso amigo não pode jamais pensar em sair de seu posto e procurar o rato para matar, pois o avião não tem piloto automático. Fazer isso seria provocar um acidente. E ainda que pudesse sair, será que seria assim tão fácil localizar e matar o rato? E o barulhinho fica cada vez mais intenso: rhoc, rhoc, rhoc…
Pensando rápido com todos os seus botões e abotoaduras, nosso amigo lembra-se de uma das aulas na escola de pilotagem. Há muito tempo, naquelas aulas, um dos professores tinha dito que numa situação hipotética – muito difícil de acontecer, segundo ele – de você estar sozinho, e se deparar com um rato ou outro bicho pequeno da família, roendo sua máquina, havia um meio de saída. Segundo aquele professor, ratos não suportam alturas. Portanto, se você subir bem alto, bem alto, eles serão destruídos pela altura. Assim, nosso amigo engrenou o manche e começou a subir. Depois de um certo tempo ele ainda ouvia o barulho: rhoc, rhoc, rhoc… Só que, à proporção que ele subia, subia mais e mais, o barulhinho ficava cada vez mais fraco, até que parou. O rato tinha morrido.
Em nossa caminhada, ou vôo sobre as montanhas, todos nós nos deparamos vez ou outra com ratos roendo nossa condução. “Ratos” significam problemas, perseguições, calúnias, pessoas invejosas, distrações e todo tipo de oposição negativa. Ratos podem provocar muitos tipos de doenças, como a peste bubônica, leptospirose, doenças de pele, etc. A questão não começa e termina em termos ou não um rato nos perturbando; o mais importante para a continuação segura de nossa jornada é o que fazer diante da presença roedora do rato.
Como nosso amigo piloto, não podemos sair por aí levantando todos os tapetes à procura do rato. Não podemos sair pelo avião ou pela vida afora dando chineladas em ratos reais e imaginários, que sempre se esquivam dos nossos golpes e vão roer em outra área da nossa vida ou do nosso trabalho, às vezes com mais voracidade e um barulho mais alto. Tampouco podemos fugir apavorados, com medo dos ratos, afinal, pessimismos à parte, ratos existem em todo lugar.
O segredo é subir, elevar-se por sobre as montanhas. Subir é nobreza, é motivação positiva, é espírito de coragem e desafio. É não ter medo de alturas nem de ratos, nem perder tempo com eles. Quando você sobe mais e mais alto, os ratos morrerão, pois eles não suportam alturas. As alturas, os valores nobres, são para seres humanos disciplinados, persistentes e que não se curvam diante da ameaça dos ratos.
Contudo, para subir é preciso preparo. Independentemente do tipo de terreno que estejamos sobrevoando, é preciso conhecer bem a aeronave, ainda que velha, e para onde estamos indo. É preciso ter sido ensinado a pilotar e ser capaz de lembrar-se de lições antigas, as quais podem salvar a nossa vida. É preciso ter coragem, e acima de tudo estar disposto a correr riscos. Correr riscos com responsabilidade. Lembrando-se sempre de que voar é uma arte, e que o céu é o limite para cima, e a terra é o limite para baixo. Assim, observando e conhecendo bem as leis do céu e as leis da terra, estaremos sempre voando em segurança, sem temor de ratos e insetos.